Tuesday, November 25, 2008

Monday, November 17, 2008

A criar desastres desde 2002


Devido à baixa relevância dos títulos da série ZETTAI ZETSUMEI TOSHI, torna-se extremamente difícil encontrar informação acerca da equipa de criadores da IREM que, com estes dois títulos, conseguiu imprimir uma marca pessoal de autoria que poucos tiveram o cuidado de observar com maior atenção. Como resultado de uma longa demanda em busca de informação mais completa a respeito do designer Maki D. adquiri os dois guias oficiais dos jogos, disponíveis apenas em japonês.

Com a ajuda de Sorrel Tilley, estudante de japonês em Inglaterra e membro do site NTSC-UK, foi possível disponibilizar a entrevista da Enterbrain sobre de ZETTAI ZETSUMEI TOSHI 2, conhecido na Europa por RAW DANGER, onde são interrogados Maki D. e Kujou Kazuma, produtor dos jogos. Deixo os meus mais sinceros agradecimentos ao Sorrel por me ter ajudado nesta solitária demanda, apesar de ainda não ter jogado o jogo. Cheers!

Monday, November 10, 2008

L.O.L. - Labour of Love


Da autoria de Ryuichi Sakamoto, a banda sonora de LACK OF LOVE (2000) é uma ecléctica mistura de estilos dissonantes que oscilam entre as sonoridades electrónicas do new age e o poder de algumas investidas instrumentais sem precedentes ao nível da composição de música para videojogos. Ao dissecar este aparente contraste, porém, é revelado um equilíbrio subjacente a toda esta obra musical: muito para além de um superficial acompanhamento sonoro, o ânimo rítmico e melódico das composições de Sakamoto revelam uma essência escondida que mais não é que a própria alma da experiência jogada.

Não obstante da obra vídeo lúdica ser portadora da assinatura do game designer Kenichi Nishi, são da autoria de Sakamoto os conceitos básicos que predizem os contextos e esquemas de jogo, facto que certifica o profundo envolvimento do galardoado músico no projecto. Em Opening Theme, Sakamoto dita um registo electrónico e etéreo onde o uso dos sintetizadores alude à mestria de Vangelis (Heaven and Hell, L'Apocalypse des Animaux), utilizados como adorno para um singular tema de piano erguido em pleno dentro dos seus códigos de composição. Esta faixa ilustra com grande intensidade o vazio e a solidão dos planos visuais que estabelecem o jogo, regressando com maior intensidade dramática para encerrar a trama com Ending Theme, onde Sakamoto reformula a melodia com variações de maior sentimentalismo, propícias ao desfecho apoteótico da narrativa.


Se em Dream, Unity e Decision Sakamoto revisita recursos sonoros expostos quer no seu trabalho em nome individual, quer no seu trabalho conjunto no grupo Yellow Magic Orchestra, em Artificial Paradise propõe um novo ímpeto ao aliar a introversão do seu próprio método de composição de música electrónica com um inesperado ritmo techno - um contraste entre new age e EDM que chega a evocar algumas tendências de Jarre em Oxygène 7-13. Um contraponto a toda a obra no geral é proposto com Crisis, um tema de cariz modernista que recorda alguns dos assaltos impetuosos de Bartók (nomeadamente em Allegro Barbaro).

Já em Mission, Sakamoto prescinde dos sons electrónicos, interpretando o tema num órgão de pedal adquirido especificamente para esta ocasião. Se escutado atentamente, é possível discernir o piar do pedal quando pressionado pelo autor, propositadamente deixado como indicador do esforço implícito ao manuseamento deste instrumento. A aquisição de sons puros e crus em instrumentos menos comuns também é verificada no tema Transformation cuja nostálgica melodia foi inscrita num rolo metálico de uma caixa de música - o tema é precedido pelo som sugestivo da corda metálica a ser apertada segundos antes da música começar. Ambas as faixas revelam o desejo de Sakamoto produzir música que não fosse instantaneamente reconhecível como temas de acompanhamento para uma banda sonora de um jogo.

Sendo LACK OF LOVE uma fuga à maioria das regras nas quais a produção de videojogos se assenta, ou pelo menos nas suas vertentes mais comerciais, esta banda sonora original editada pela WEA Japan produz uma diversificação raramente conhecida num universo já povoado com grandes obras de alguns dos melhores músicos das últimas décadas.


Trata-se de um momento de entrega absoluta que oito anos depois ainda carece do reconhecimento devido: uma composição musical que revela em cada passagem o gosto
genuíno de Ryuichi Sakamoto pelo experimentalismo, numa extraordinária tentativa de demonstrar aos jogadores o poder e autoridade da componente musical num jogo de vídeo. Presto a minha sincera homenagem não só a um dos mais importantes compositores actuais como a um trabalho que, como um símbolo, sumariza e representa alguns dos valores capazes de dirigir o meio vídeo lúdico rumo ao seu zénite artístico.